Recebemos a carta abaixo, que entendemos não ser o sentimento de apenas uma pessoa, mas de uma cidade inteira e, especialmente, de um bairro que um dia já foi um lugar decente para se morar. O relato por si só é arrebatador, e mostra uma situação de desespero e dor de quem está vendo a sua comunidade perder o jogo de goleada para a criminalidade. Não é aceitável, não é normal, não tem que ser assim. Por motivos de segurança o autor pede para não ser identificado, no que será atendido, claro. Por favor leiam até o final e compartilhem ao máximo em suas redes sociais. Não dá mais pra aceitar calado!!!
Sou morador de Jardim Brasil I e desde o começo do ano estamos vivendo uma onda de violência generalizada no bairro, em grande parte graças ao abandono do Estádio Olindão. Acompanho o Observatório de Olinda já há algum tempo e aqui li algumas matérias dedicadas ao local. Na última quinta-feira (14) a situação chegou ao ápice do extremo, com troca de tiros entre policiais e bandidos no meio da rua, colocando em risco a vida de vários transeuntes – crianças e idosos em sua maioria, vale ressaltar – e profissionais que ali se encontravam.
Ainda que atrasado, redigi uma carta que mais serve como um desabafo e esperança que tenha sua divulgação espalhada o máximo que puder, com alguma sorte chegando “aos ouvidos” da Prefeitura.
Na manhã do dia 14 de Junho dentro do ônibus, presenciei dois jovens sacarem armas e ameaçarem o fiscal, motoristas, cobradores e quem mais estivesse por perto. Naquele momento, senti medo, entrei em pânico e logo em seguida fui tomado pela sensação do “é isso mesmo, não há o que fazer.” Na noite daquele mesmo dia, ouvi barulhos que à princípio julguei como sendo de fogos. Quase que imediatamente, tomado por gritos e histeria que vinham de fora, percebi que aquele barulho na verdade eram tiros sendo disparados, bem no meio da rua, a poucos metros de onde meu filho de dois anos se encontrava com minha sogra.
Eu não vivo em uma zona de guerra. Eu não vivo em uma favela. Eu não vivo em um regime de anarquia. No entanto, naquele dia, todas as minhas convicções acima foram postas em cheque. É bastante comum vermos traficantes dentro do Estádio, seja arruinando suas próprias vidas ou a de terceiros, vendendo drogas, como se aquilo fosse algo normal.
Não é incomum também vermos meninas claramente menores de idade adentrarem o campo acompanhadas de homens. Nós, moradores de Jardim Brasil I, em especial aos que residem próximo ao Olindão, não aguentamos mais. Essa situação precisa ter um ponto final. Chega de lixo nas ruas. Chega de animais mortos. Chega de esgotos à céu aberto. Chega de buracos nas vias. Chega de alagamentos. CHEGA DO TOTAL DESCASO COM O ESTÁDIO OLINDÃO.
Estamos cansados de ouvir promessas que nunca se concretizam e de visualizar posts na página do Facebook da Prefeitura de Olinda glorificando execuções básicas, como o calçamento de uma rua ou a troca de lâmpadas de algum local, como se esta fosse a melhor e mais competente prefeitura que existe. Professor Lupércio: Não aguentamos mais esta situação. Repito, NÃO AGUENTAMOS MAIS. O Estádio Olindão precisa de uma solução urgentemente.
Protestamos, imploramos, ouvimos promessas que até o momento nos fazem duvidar se algum dia sairão do papel. Agora queremos ação. Esperamos pelo dia em que poderemos ter prazer em bons espaços dentro de nosso bairro. Espaços onde possamos caminhar, aprender, reunirmos-nos, espaços onde eu posso levar meus pais, esposa, filhos. Espaços com dignidade. Espaços com respeito. Espaço com liberdade.
As possibilidades para uso do estádio são incontáveis e de custo financeiro relativamente baixo: Criem um parque, derrubem os muros que cercam o local, encham o espaço com árvores nativas, coloquem uma pista de cooper. Vejam a qualidade de vida de milhares de pessoas melhorando significativamente. Despeço-me, cansado, mas com a esperança de termos nossa voz ouvida.