Múcio Aguiar*
No último dia 16, o Brasil perdeu o sol da liberdade e a escuridão reinou. Já não havia luz, mas o negro da toga, que esvoaçava assustadoramente nos corredores da Corte. A noite é fria e úmida como o sepulto da vaidade. No crepúsculo, a valsa triste da morte é silenciosa, não existe expressão nem informação, mas observo um olhar pálido, era o amigo, do amigo do meu pai.
Era um cenário assustador, como numa sexta-feira chuvosa, os antagonistas lutavam contra a tempestade e o risco de naufragar, relembrava a história de Crusoé. O palácio magistral, já não tinha a pureza alexandrina, mas a imoralidade da censura que se repetia em dias tolos. A corrupção lavava com um jato as escadas e a vergonha não era refletida no espelho – pois não havia imagem a ser refletida, nem cabelos grisalhos para escovar.
A treva buscava reinar impetrando medo e terror. A tentativa era de suprimir todo respiro, sufocando o direito de informar. O pavor foi tão assustador que outra corte, como num senado romano, em um relâmpago de sensatez correu para acender a luz, refazendo a passagem bíblica – fiat lux!
Mas as suas consistências são tão frágeis como a moralidade da maioria dos seus atos. Aterrorizados, outros protagonistas subiram ao púlpito, e como militares advogaram pelo restabelecimento do oxigênio da democracia. A história se repete, e como numa exéquias, novos e antigos jornalistas se unem, como carpideiras para chorar na carcaça da imprensa livre.
Assustado, o corvo da morte abre suas asas, e como num grande manto cobre e crocita sob o ataúde da decência, buscando afastar seus inimigos. Espera como abutre o seu banquete, seu hálito é de um necrófago. A decomposição da moralidade é amarga para quem vê. Esquece o carrasco que a morte não é eterna, mas o sangue que corre nas mãos de quem pratica o crime, esse se eterniza e o condena ao sarcófago dos insensatos.
Tolo é aquele que acredita que cercear a imprensa é o melhor caminho para esconder a informação, pois como comprova a história, esse ato apenas dar notoriedade aos fatos. E assim, todos abrem seus olhos para o amigo, do amigo do meu pai.
Múcio Aguiar é presidente da Associação da Imprensa de Pernambuco e conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa.