O Partido Socialista Brasileiro (PSB) surgiu no cenário político nacional originariamente em 1947 e tem como marco ideológico inicial o manifesto redigido pelo jurista, escritor e político baiano, João Mangabeira.
Uma vez extinto em 1965, pelo Ato Institucional Nº 2, voltou a ser fundado em 1985, após a redemocratização. Com o seu ressurgimento, o partido passou a ter em seu quadro o ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes, que nele ingressou em 1990.
Após deixar o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), Arraes filiou-se ao PSB e disputou a eleição para Deputado Federal, sendo o mais votado no Brasil, tendo elegido consigo mais quatro então candidatos – fazendo uma expressiva bancada eminentemente pernambucana na Câmara dos Deputados.
Esta expressiva vitória eleitoral de Arraes deu início ao ciclo efetivo da relação política do partido com o povo pernambucano. O PSB passou a ser uma agremiação com fortes raízes em nosso Estado e paulatinamente foi moldado, pelas mãos e inteligência de Arraes, no caminho que culminou em seu domínio no cenário político estadual.
Dr. Arraes formou uma geração de lideranças partidárias, forjadas em sua visão política e social, cujos frutos repercutem até hoje em nossa cena política. Com sua perspicácia, capacidade de aglutinação, liderança e trabalho, estabeleceu uma verdadeira “linha de montagem” de quadros políticos, que se renova a cada geração.
Com a passagem do comando da legenda para o saudoso Eduardo Campos, à sequencia de renovação da vida partidária foi aprimorada e intensificada. Eduardo teve a genialidade em promover a salutar convivência entre grande parte dos quadros formados por Arraes, com os seus contemporâneos.
Jovens que então foram educados, nos valores partidários, bebendo na mesma fonte que matou a sede do jovem Eduardo Campos, e de seus companheiros de militância, que seriam preparados para ocupar cargos de alta relevância no cenário do poder pernambucano.
Posso referenciar como exemplo desta vitoriosa geração, que ombreou os primeiros passos e toda a vida política de Eduardo Campos, o jovem maranhense Milton Coelho da Silva Neto, que garoto deixou a sua Codó para vir estudar no Recife e através da amizade de Eduardo, ingressou nas hostes socialistas para nunca mais sair.
Milton Coelho é um expoente da sua geração socialista que desfrutou da convivência e do saber político de Dr. Arraes, com quem estabeleceu grande conexão intelectual, política e laços profundos de amizade, estima e consideração.
Exerceu por vários mandatos a presidência estadual do partido, durante a sua máxima efervescência, com a chegada de Eduardo Campos ao Palácio do Campo das Princesas.
Sempre cuidando e se sacrificando para que o “trem não saísse do trilho” e fosse fielmente realizado o pensamento político de Arraes, rejuvenescido pela visão de Eduardo Campos.
Tive a oportunidade de testemunhar parte desta história, nos anos de 2008 a 2010, quando trabalhei com Milton em sua vitoriosa campanha para Vice-Prefeito do Recife e posteriormente em seu gabinete na função de Assessor Jurídico.
A força política construída por Eduardo à frente do partido, em Pernambuco e também fora de nossas fronteiras, fez com que outras gerações de quadros fossem gestadas e passassem a figurar com brilhantismo em nossa ribalta política.
São frutos desta “fornada” o governador Paulo Câmara e o atual prefeito do Recife, Geraldo Júlio.
Figuras oriundas dos bastidores, mas uma vez preparadas nos moldes socialistas, sempre sob a batuta de Eduardo Campos, marcam seu tempo no exercício do poder de forma a manter a força e hegemonia do PSB no comando do governo do Estado e da nossa Capital, Recife.
E se os analistas políticos avaliavam que o “ciclo do PSB” estaria perto do fim, o resultado do pleito eleitoral na cidade do Recife nos demonstra exatamente o contrário.
Em uma disputa acirradíssima com a sua prima e ex-socialista, Marília Arraes (PT), o jovem Deputado Federal (em seu primeiro mandato), João Campos, imprime uma vitória que demonstra a vivacidade da força eleitoral da legenda em nossa Capital.
Com o resultado das urnas apuradas no dia de ontem, o PSB renova o fôlego para lutar pela hegemonia política na cidade do Recife, por mais oito anos e consolida sua importância na disputa pelo Governo de Pernambuco, a ser realizada em 2022.
Além do que, demonstra que a sua competência em gerar quadros políticos e partidários vitoriosos, encontra-se em pleno vapor. Basta olhar as fotos e vídeos da merecida festa da vitória do prefeito-eleito, João Campos, para ver que a juventude na condução do processo vai além dos poucos 27 (vinte e sete) anos do alcaide eleito.
Em sua “nota do tradutor”, publicada na edição de 2003, do livro “A Mistificação Das Massas Pela Propaganda Política”, (redigido por Serge Tchakhotine), Miguel Arraes relata como se deu a tradução por si realizada, da referida obra, executada no ano de 1964, quando foi deposto do Governo de Pernambuco, pelo Regime Militar.
Refere, neste seu trabalho como tradutor, que a tática da repetição de uma mensagem, pelos instrumentos de propaganda, é antiga, sendo a “Coca-Cola”, desde o fim do século XIX, um exemplo de uso da arte publicitária no mundo.
Aborda que o mérito do autor da obra, Serge Tchakhotine, está em testemunhar que a “mistificação das massas” pela propaganda, existe e poder ser feita.
Vemos que as lições aprendidas por Dr. Arraes não foram apenas aplicadas em sua marcante carreira política – como foram inseridas de tal forma na cultura partidária do PSB – que produziram a construção desta inegável “fábrica de vitórias”, que é o partido socialista brasileiro na cidade do Recife e em Pernambuco.
P.S: Esta coluna é redigida em homenagem ao meu querido e saudoso amigo, Honorato Leitão. Importante discípulo de Dr. Arraes e companheiro valoroso nas lutas em prol do Sport Club do Recife.
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Pedro Leonardo Lacerda
Advogado Especialista Em Direito Público e Consultor Político
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