Depois de passar quase “ilesos” por epidemias anteriores de arboviroses, moradores de uma rua no bairro de São Benedito, em Olinda, estão atordoados com o mosquito Aedes Aegypti neste verão.
Desde o começo do mês de dezembro, 27 pessoas da Travessa São Benedito foram acometidas por sintomas característicos de dengue, zika e chikungunya.
Em plena época do ano mais propícia à proliferação do mosquito vetor dessas doenças, os moradores denunciam que o acúmulo de resíduos de obras nas margens do Rio Beberibe estariam servindo de focos.
EPIDEMIA – A Travessa São Benedito é uma rua de 13 casas e 43 metros. De todos os imóveis, apenas dois que estão fechados não tiveram moradores doentes desde dezembro.
Em alguns deles, todos os moradores adoeceram, caso da residência da auxiliar administrativa Lucy Siqueira, 62 anos. “A primeira pessoa adoeceu tem uns 15 dias. Minha filha ficou com a boca estourada, chegou a desmaiar. No meu caso, senti moleza e muita dor no corpo. Minha mão ainda está inchada”, contou.
Na casa do lado, três pessoas adoeceram, sendo a primeira delas no começo de dezembro. “Comecei com dores fortes no corpo, nas articulações, e febre. Sinto dores nas mãos e nos pés, principalmente quando acordo. Minha irmã ficou com manchas, com o rosto todo inchado. Aqui na rua é mais fácil contar quem não ficou doente”, afirmou a auxiliar administrativa Cláudia Patrícia Fernandes, 43 anos.
MORTE – Na casa dela, a irmã adoeceu por volta do dia 22, e o pai está doente desde o dia 22. Nesse intervalo de tempo, a mãe de Cláudia faleceu. “Como ela tinha problemas no coração, não achamos que têm correlação com as arboviroses. Mas, dias antes do falecimento, ela estava reclamando de dores”, disse Cláudia.
Por causa da quantidade de casos, a família mudou a rotina. Passou a usar inseticida o tempo todo dentro do imóvel e a usar repelente constantemente na criança de cinco anos que vive com eles, uma sobrinha de Cláudia.
Com as mãos e joelhos ainda inchados, a empregada doméstica Luciene Melo, 42, lamenta ter pedido o emprego em função da doença. “Fiquei com os dedos inchados, a pele seca, muitas dores. Estou há 20 dias assim. Começou com uma febre e manchas vermelhas pelo corpo. Até agora, não consigo pegar nos objetos direito. Por causa disso, deixei de ir trabalhar e perdi meu emprego”, disse.
FOCOS – Segundo a professora aposentada Adaneusa Alves, 62, a comunidade nunca registrou tantos casos de arbovirose ao mesmo tempo. “Das outras vezes, uma ou outra pessoa ficava doente. Agora, a rua inteira está assim. O agente de saúde olhou casa por casa, nos orientou, mas não encontrou focos. Depois, veio outro e disse que os focos eram na obra que fica aqui perto do Rio (Beberibe)”, disse ela.
Em nota, a Secretaria de Saúde de Olinda informou que dois agentes de saúde atuam na localidade, realizando visitas educativas e de inspeção. O levantamento de Índice Rápido (LIRAa) em 2019 foi de 1,9%, acima do de 2018 (0,9%), deixando a localidade em situação de alerta.
O aumento, segundo o órgão, é decorrente as intensificações das ações com mutirões nos locais e também a sazonalidade natural de surgimento dos casos de arboviroses a cada dois anos. O órgão, entretanto, não esclareceu como vem monitorando a situação específica da Travessa São Benedito.
Fonte: DP