Etimologicamente a palavra “diálogo” deriva das gregas, “dia” e “logos”. Sendo o significado do termo “dia”: “através” e “logos”, “razão”. Ou seja, numa tradução livre, a palavra diálogo significa “através da razão”.
Em que pese as grandes revoluções nos meios individuais de comunicação, trazidas inicialmente pela propagação do uso de computadores pessoais, nos anos 1990 do século passado, até os smartphones, surgidos nos anos 2000, sem dúvidas vivenciamos, a cada momento, uma perca coletiva da capacidade de dialogarmos.
A referida “revolução tecnológica” nos deu o poder de conhecermos o mundo sem sair de casa, ao mesmo tempo em que nos privou do contato pessoal com nossos semelhantes. E não falo especificamente das consequências da pandemia da covid-19. Não!
Mesmo antes deste que é o “mal do século”, já estávamos em sério “isolamento social de diálogo”. Cada um de nós, ao longo da última década, quando da massificação da internet no Brasil, habituou-se a pouco interagir com pessoas de forma direta, numa atrofia social que agora cobra seu preço.
Nós, nascidos antes do ano 2000, vivenciamos um mundo no qual falar à distância exigia o privilégio de um telefone doméstico e muita paciência. Os custos das ligações para outros Estados e internacionais era extorsivo e com isso, muito pouco falávamos com pessoas realmente distantes de nós.
Para longas distâncias, cartas e só. Acompanhávamos as evoluções científicas através das enciclopédias e das publicações semanais. Os jornais impressos e revistas eram os caminhos naturais de atualização do que acontecia pelo mundo. E os poucos canais de televisão eram as fontes diárias de informações e conhecimento.
Naqueles anos, até o rádio, paixão que marca meu cotidiano desde tenra idade, apesar de sua imortal velocidade e maleabilidade, tinha formato mais rígido na apuração das suas pautas. Pois as fontes de notícias derivavam dos mesmos mananciais: jornais, fac-símile e noticiários da televisão.
Vivíamos tempos de menos “bombardeio de informações” e quando desejávamos alguma “novidade”, o melhor caminho era ir ao encontro de amigos e familiares, muitos dos quais assinantes de revistas ou jornais que monopolizavam o timing da notícia.
A violência era menor, o ritmo da vida mais constante e a interação social muito mais intensa e saudável. Aprendíamos a lidar com o contraditório em todos os locais. Escolas, cursos presenciais de línguas estrangeiras, igrejas, clubes sociais, jogos de bola na rua, tudo terminava em conversa.
Bem diferente da realidade que nos foi imposta com o ritmo avassalador da informação atual, que invade nossos ouvidos e olhos a cada piscada na tela de nossos celulares.
Com essa facilidade de optarmos por aquilo que nos atrai, aliada a uma mudança radical em nossos ritmos de vida, perdemos, a cada dia, a capacidade de interagir com os demais atores sociais. Apenas lemos o que nos interessa e falamos com quem gostamos.
Dificilmente entramos em contato com assuntos fora dos nossos “gostos”. Transformamo-nos em “doutores de sites de buscas”, com muito conhecimento raso em tudo e pouco conhecimento profundo em temas que pensamos dominar.
Jovens que hoje estão na casa dos vinte e poucos anos não conhecem o mundo sem a “muleta” da internet. Jamais leram um livro ou fizeram uma pesquisa em livros para produzir os seus conhecimentos. Apenas repetem o que alguém compilou para eles, seja em apostilas na faculdade ou resumos entregues nas escolas.
E o comportamento arredio ao intercâmbio de palavras transborda para o universo da política. Tolerância, respeito ao contraditório, e pacífica convivência com ideias diferentes, são cada vez menos observados no mundo da política.
Ao contrário. Ao perceber o menor sinal de contrariedade ao seu pensamento, o homem público se transforma em uma metralhadora de palavras duras, grosseiras e arredias à salutar, e necessária, troca de impressões sobre temas e matérias de interesse social.
Vemos uma profusão de parlamentares, em todo o Brasil, que não possuem a essência necessária para estar em um parlamento, qual seja a capacidade de dialogar, conviver com pessoas e pensamentos divergentes e com isso aprimorar a própria atuação política.
Neste claustrofóbico cenário surgem os piores posicionamentos quando falamos de vida pública, os que se forjam na intolerância e preconceitos, que de tão presentes em nossas vidas passam a possuir “ares de normalidade”.
Debates passam a ser inexistentes e as assembleias legislativas, congresso nacional e câmaras municipais perdem sua razão de ser. Passam a ter espaço às brigas e deboches, afastando o necessário e salutar debate sobre assuntos de interesse do povo.
Não proponho com a presente reflexão uma condenação à modernidade, muito ao contrário! Necessitamos nos valer das ferramentas tecnológicas para maximizar nossas possibilidades de diálogo e aprendizado.
O isolamento social nos ensinou as maravilhas das reuniões virtuais, verdadeiros fóruns de debates e aprendizados que quando bem utilizados potencializam a disseminação do conhecimento, em seus vários matizes.
E assim, nos adaptando aos tempos atuais, não podemos esquecer de que é através do diálogo que se constroem pontes. Com ele podemos ampliar nosso rol de amizades, parcerias e conhecimentos.
Com isso realizaremos a nossa missão enquanto pessoas e atores sociais, que têm por fim transformar o ambiente em que vivemos. Seja: doméstico, laboral ou social, um espaço de convivência no qual a harmonia e o bem comum prevaleçam, melhorando a vida de todos e da nossa comunidade.
Diálogo, sempre!
Pedro Lacerda é advogado e escreve às segundas-feiras para o Observatório de Olinda.
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