A crise na Secretaria de Educação de Olinda parece não ter fim. Após denúncias de precariedade na infraestrutura de diversas unidades da rede municipal, agora são funcionários com reconhecida competência que estão pedindo para sair.
No final da manhã de hoje (25) a diretora da Divisão de Educação Infantil, Célia Regina Bastos, informou aos colegas que não responde mais pelo setor. Ela divulgou uma carta/desabafo nas redes sociais explicando os motivos do pedido de exoneração.
Em um dos trechos ela diz: “A falta de compreensão sobre a garantia dos direitos das crianças, como as condições da estrutura e má conservação dos prédios nos quais funcionam a maioria das turmas de Educação Infantil oferecendo qualquer tipo de risco as crianças é algo que JAMAIS estarei de acordo“.
Abaixo a íntegra da carta da servidora.
Colegas Professoras, Auxiliares, Coordenadores Pedagógicos, Diretores e Membros dos Conselhos Gestores de Educação Infantil Estadual – FEIPE e Municipal – FEIMO.
Aqui em Olinda, eu nasci, cresci e sinto muito orgulho de fazer parte dessa cidade e desse povo que eu tanto amo e respeito. Ao longo de doze anos que estou na Divisão de Educação Infantil da Secretaria de Educação, muitos de vocês acompanharam a minha luta para que a Educação Infantil fosse vista e respeitada com a devida importância que lhe cabe.
Nestes últimos três anos, tive o privilégio de contar com a confiança de vocês na chefia da Educação Infantil de Olinda, mas a partir de hoje estou me desvinculando desse cargo.
Infelizmente, Educação Infantil ainda está longe de ser uma prioridade para os gestores Municipais, como preconiza os documentos oficiais. Nestes últimos anos foram os períodos de maior intensidade, marcado pelos desafios relacionados às discussões sobre essa prioridade, mas pouco conseguimos avançar.
À frente da Divisão de Educação Infantil procurei cumprir minhas responsabilidades com o devido respeito e apreço às crianças e aos colegas e a necessária atenção a todos aqueles que mantiveram as melhores e maiores expectativas em relação ao meu trabalho. Em todas as circunstâncias, tentei fazer valer os direitos das crianças da primeira infância em ter um atendimento digno, respeitoso, humanizado, competente e condizente com os documentos oficiais que respaldam o atendimento dessa etapa de ensino.
Com o apoio de vocês, mantivemos as nossas formações, realizamos seminários de trocas de experiências, nos demos as mãos e solidarizamos e, dentro das nossas limitações, tentamos ajudar e buscar alternativas para superar junto com vocês as dificuldades que surgiam no dia a dia com as crianças ao longo do ano.
Seria injusto atribuir todas essas mazelas apenas a essa gestão, uma vez que, temos uma dívida histórica com a sociedade na demanda reprimida da matrícula das crianças nessa faixa etária e na qualidade desse atendimento, ainda hoje não temos 5.000 crianças matriculadas, num universo de aproximadamente 25.000 estudantes na Rede.
Atravessamos por mares revoltos. A falta de compreensão sobre a garantia dos direitos das crianças, como as condições da estrutura e má conservação dos prédios dos quais funcionam a maioria das turmas de Educação Infantil oferecendo qualquer tipo de risco as crianças é algo que JAMAIS estarei de acordo.
Nunca deixei de ter minhas próprias posições e convicções, como também minhas dúvidas e incertezas. Mesmo ciente de que não avançamos com a perspectiva de uma política sensível às necessidades da Educação Infantil, na medida do possível, deixamos claro, através das formações e acompanhamentos às escolas que: o cuidado, o zelo e o bem estar das crianças devem estar acima de qualquer propósito sempre.
Agradeço imensamente a todos que me ajudaram a crescer, não apenas profissionalmente, mas também pessoalmente, aprendi muito com todos vocês. O tempo das crianças é aqui e agora! Elas não podem esperar, ao defender essa posição, é impossível não identificar uma série de variáveis necessárias para a qualidade da oferta de educação infantil, se tomarmos como referência os direitos das crianças que encontram explicitadas em documentos orientadores nacionais, como as Diretrizes Curriculares, os Parâmetros, Indicadores de Qualidade e a Base Nacional Comum Curricular.
Todavia, sabemos que estas questões estão relacionadas às políticas públicas: financiamento, gestão, recursos humanos e infraestrutura, e muita vontade política.
Assim, encerro, agradecendo pela atenção dispensada e solicito que compreendam a minha atitude. Deixo claro que a partir de hoje não faço parte da Chefia da Educação Infantil, mas, permanecerei na equipe técnica, e SEMPRE estarei na luta em defesa de uma EDUCAÇÃO DE QUALIDADE para as crianças, especialmente as de Educação Infantil.
Recebam as minhas cordiais saudações. Célia Regina Bastos