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EXCLUSIVO: MORADOR DE BAIRRO NOVO CONTA COMO VENCEU O CORONAVÍRUS

Os últimos 10 dias foram de provações, dor, medo e ansiedade para os irmãos, moradores do Bairro Novo, em Olinda, que receberam o diagnóstico de infecção por Coronavírus, logo após voltarem com a família de uma viagem de lazer a Santa Catarina.

Nesta entrevista, exclusiva ao Observatório de Olinda, o advogado José (nome fictício*) conta como foi passar dias na UTI e o medo de não sair vivo do hospital. 

“Melhor perder alguns dias da vida dentro de casa, que perder a vida em poucos dias”.

1- Quando você soube que havia sido contaminado pelo coronavírus?
R- Fizemos uma viagem com toda a família (20 pessoas) para Santa Catarina, onde passeamos durante 10 dias no parque de Beto Carrero, Balneário de Camboriú, Parque Unipraias, e outros lugares.
Retornamos na madrugada do dia 18/03, após dormir já em casa, acordei me sentindo com o corpo todo dolorido e com febre.
Iniciei uma quarentena, visto que tínhamos acabado de voltar de viagem e não sabíamos o que poderia ser. Fiquei isolado em um quarto e minha filha e esposa em outro.
Durante o dia tive uma pequena melhora, mas à noite a febre voltou e comecei a sentir falta de ar, coisa que sempre tenho quando fico gripado devido a minha asma.
Continuei o tratamento em casa até a sexta-feira (20) à noite, quando não estava mais aguentando a falta de ar, estava forçando muito para poder respirar, e por mais que respirasse, não sentia que era suficiente.
Procurei a emergência do Hospital Esperança, por ser mais perto de casa.
Lá já fui submetido a vários exames (Raio X, tomografia e gasometria), a médica plantonista detectou alteração nos resultados dos exames, e levou o caso para a direção  médica, que decidiu me internar direto na UTI. Lá fiquei sabendo que possivelmente meu diagnóstico daria positivo para COVID19. Já na UTI fiz uma bateria de exames e os médicos começaram o tratamento com antibiótico e outros medicamentos.

2- E sua irmã?
R- Minha irmã também apresentou os mesmos sintomas quando chegou de viagem. Ela chegou a ir na emergência da Unimed na quarta-feira (18), mas o médico mandou ela retornar pra casa, pois diagnosticou como uma possível bronquite associada a uma sinusite, e prescreveu um antibiótico. Ela retornou para casa e iniciou o tratamento conforme recomendação médica.

3- Vocês tiveram contato com alguma pessoa que havia vindo de áreas infectadas?
R- Tivemos bastante contato com pessoas de todo o mundo que frequentam o Parque Beto Carrero. Lá estivemos em vários ambientes fechados com shows, e ainda fizemos conexão durante três horas no aeroporto em São Paulo.

4- Quais os sintomas que vocês sentiram?
R- No meu caso, comecei com dores no corpo, corpo mole e febre que não passou de 38,2. Só depois foi que fiquei com dificuldade de respirar e falta de ar e cansaço, muito cansaço.
Já minha irmã sentiu dores abdominais, chegando a vomitar várias vezes. Teve febre e cansaço, mas não chegou a ficar com dificuldade para respirar.

5- Os órgãos de saúde testaram vocês?
R- Quem realizou os exames foram os médicos do hospital. Acredito que eles tenham encaminhado as amostras para os órgãos de saúde. Meu resultado demorou cinco dias para dar positivo para COVID-19, o que na verdade não afetou o tipo de tratamento que já estava sendo aplicado.

6- Após a confirmação como vocês se sentiram?
R- Não tive reação diferente após a confirmação, pois já imaginava que daria positivo para COVID19, por toda a exposição na viagem, mesmo usando máscara em determinados momentos, No íntimo já tinha certeza.

7- Você é asmático. Isso lhe causou mais preocupação?
R- Sim, esse foi meu maior medo, pois sempre tive problemas respiratórios e sabia que a maioria dos óbitos causados pela COVID19 foram em pacientes com problemas respiratórios, e me considerava como paciente de alto risco. E pelo meu quadro quando cheguei no hospital com dificuldades de respirar, falta de ar, muito cansado. Pra se ter uma ideia, na emergência me deram um sanduíche para me alimentar, e eu não consegui comer, pois fiquei muito cansado. Era assim; ou eu comia ou respirava. Não conseguia parar de respirar, prender a respiração para engolir ou mastigar.
Nesse dia realmente cheguei a acreditar que não sairia mais dali com vida.
Mas Deus é pai.

8- No que você pensava e onde buscou forças para superar a doença?
R- Primeiramente me entreguei a Deus, e disse que, se fosse de Sua vontade, fizesse o que programou para mim. Mas que eu gostaria de ficar vivo, pois tenho uma filha e tenho muito ainda pra fazer por ela.
Na UTI é proibido o uso de celular, mas graças a Deus, a diretoria médica do hospital, mesmo depois de muita conversa, aceitou que eu permanecesse internado com o celular e o carregador, mesmo dentro do quarto de isolamento dentro da UTI. Isso me ajudou muito, pois pude fazer chamadas de vídeo com minha família durante o período internado.
Sem isso, acho que meu psicológico iria ficar bastante abalado, mais do que já estava. Inclusive tive que tomar alguns remédios para controlar a ansiedade.

9- Qual o conselho que você daria à população hoje?
R- Meu conselho é que fiquem em casa, não saiam, se previnam de todas as formas possíveis. Não brinquem com essa doença. Ela existe, está mais perto do que achamos, e o contágio é muito rápido e fácil. Melhor perder alguns dias da vida dentro de casa, que perder a vida em poucos dias.

10- Após este episódio, como você passa a encarar a vida, a partir de agora?
R- Acredito que Deus me deu uma nova oportunidade de viver e irei aproveitar cada momento junto com minha família. Isso sim é importante. Quando estava internado, eu só queria poder ver minha filha só mais uma vez e poder dar um beijo e um abraço mais uma vez. E isso, naquele momento, me foi roubado e não sabia se iria poder fazer isso novamente. Essa foi minha maior dor durante todo o internamento. Essa incerteza acabava comigo.
Você é colocado dentro de um quarto, e não sabe se vai sair dali, não pode ver ninguém, a própria equipe médica, para poder entrar no quarto tinha que colocar roupas especiais, máscaras, luvas e outras coisas mais. Mas nós vencemos!!!

*Atendendo pedido do entrevistado mudamos seu nome a fim de evitar situações de preconceito e preservar a privacidade dos seus filhos. Foto ilustrativa.

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